Fazendo parte da campanha de divulgação da VII Jornada Médico Jurídico Espírita do Piauí que se realizará no período de 23 a 25 de agosto do presente ano, fomos no último sábado 15 de junho, à cidade de Caxias no Maranhão.
Já faz parte da nossa agenda, no ano do evento da AME, visitarmos as cidades vizinhas do Piauí e Maranhão para o trabalho de divulgação do evento.
O Seminário, Caxias Espírita, estava marcado para acontecer no auditório da UEMA, como já haviam sido nos dois eventos anteriores; foi sem surpresa, mas com um misto de curiosidade que quando lá chegamos, ao sermos comunicados que por problemas no auditório referido, o evento seria realizado no Memorial da Balaiada, do outro lado da praça.

Ao adentrarmos o recinto, fomos surpreendidos com um museu que retrata a Caxias da época da Balaiada. Encontramos peças arqueológicas descobertas naquele sítio, e uma ambientação de uma rica sala para a época com móveis vindos da Europa e com fina porcelana. Vê-se um piano conservadíssimo e sobre este, um quadro a óleo de belo jovem que muito me emocionou; pois se tratava da pintura do poeta maranhense Gonçalves Dias que havia sido restaurado, filho daquelas plagas cuja figura muito honra o movimento romancista brasileiro.
A emoção deu-se por conta de uma cascata de saudosos sentimentos que me trouxe a lembrança as cenas familiares de minha casa em Timon e o som da voz de meu pai, também poeta e repentista, a declamar as poesias de Gonçalves Dias.
No início da minha fala, no seminário, após as saudações aos ancestrais e à plateia local, lembrei-me de um dos poemas que ele sempre, com muito gosto, repetia: “Ainda há pouco pedi-te/ pedi-te para valsar/ disseste: és pobre, és plebeu não me quiseste aceitar”…
Para quem divulga o Espiritismo que trabalha a evangelização e apregoa o combate ao orgulho, parece até estranho estarmos enaltecendo o orgulho. Em nosso tempo atual, o cruel preconceito de todas as formas ainda existe, e é lamentável. Mas imaginem vocês, por volta de 1840, um jovem de origem pobre, embora intelectual – era advogado, poeta, teatrólogo, jornalista –, todavia era humilde e mestiço a enfrentar o preconceito dos brancos, nobres e abastados materialmente. Essa conjunção de fatores faz lhe voltar no tempo e sentir, através das letras do poema que solfejam, a gama de sentimentos que perpassou pela alma do moço ofendido.
Aos amigos e bom povo de Caxias que me proporcionaram tão especial manhã, nosso abraço fraterno e gratidão. Aqui vai o poema na íntegra.

Num Baile – Gonçalves Dias.

Ainda há pouco pedi-te,
Pedi-te para valsar…
Disseste – és pobre, és plebeu;
Não me quiseste aceitar!
No entretanto ignoras
Que aquele a quem tanto adoras,
Que te conquista e seduz,
Embora seja da “nata”,
É plena figura chata,
É fósforo que não dá luz!

Deixa-te disso, criança,
Deixa de orgulho, sossega,
Olha que o mundo é um oceano
Por onde o acaso navega.
Hoje, ostentas nas salas
As tuas pomposas galas,
Os teus brasões de rainha;
Amanhã, talvez, quem sabe?
Esse teu orgulho se acabe,
Seja-te a sorte mesquinha.

Deixa-te disso, olha bem!
A sorte dá, nega e tira;
Sangue azul, avós fidalgos,
Já neste século é mentira.
Todos nós somos iguais;
Os grandes, os imortais;
Foram plebeus como eu sou.
Ouve mais esta lição:
Grande foi Napoleão,
Grande foi Victor Hugo.

Que serve nobre família,
Linhagem pura de avós?
Se o sangue dos reis é o mesmo,
O mesmo que corre em nós!
O que é belo e sempre novo
É ver-se um filho do povo
Saber lutar e subir,
De braços dados com a glória,
Pra o Pantheon da História,
Pra conquista do porvir.

De nada vale o que tens
Que não me podes comprar;
Ainda que possuísses
Todas as pérolas do mar!
És fidalga? – Sou poeta!
Tens dinheiro? – Eu a completa
Riqueza no coração;
Não troco uma estrofe minha
Por um colar de rainha
Nem por troféus de latão.

Agora sim, já é tempo
De te dizer quem sou eu,
Um moço de vinte anos
Que se orgulha em ser plebeu,
Um lutador que não cansa,
Que ainda tem esperança
De ser mais do que hoje é,
Lutando pelo direito,
Pra esmagar o preconceito
Da fidalguia sem fé!

Por isso quando me falas,
Com esse desdém e altivez,
Rio-me tanto de ti,
Chego a chorar muita vez.
Chorar sim, porque calculo,
Nada pode haver mais nulo,
Mais degradante e sem sal
Do que uma mulher presumida,
Tola, vaidosa, atrevida.
Soberba, inculta e banal.

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