Corria a década de 90, no auge da terapia de reposição hormonal; as pacientes na perimenopausa ( periodo que antecede a menopausa, nas proximidade desta fase) já procuravam os ginecologistas ansiosas por iniciar a terapia de reposição hormonal antes da menopausa. Muitas diziam não quero envelhecer, outras não quero perder meu marido, outras ainda comentavam: ” todas as minhas amigas tomam e questionam porque ainda não estou usando!”. Certos dos beneficios da terapia mas cautelosos, toda medicação tem efeitos colaterais , os ginecologistas avaliavam, mediam, liam , buscavam novas informações na busca do momento certo , da terapia mais adequada para cada paciente, quase todas saiam com suas receitas de hormonios nas várias apresentações e orientadas sobre o uso destas. Havia paciente que comparecia apenas para iniciar a terapia e nunca mais retornava. Naquela época, eu tinha assinatura da revista TIME e observei em alguns exemplares, que na America começava a surgir vários artigos sobre a soja e a reposição hormonal ( soja, amora preta, blueberries, inhame mexicano) isto porque muitas mulheres americanas se negavam a tomar os estrogenios; pessoas ligadas ao naturalismo e outras que achavam certo envelhecer de forma natural. Durante uma jornada de Ginecologia, aqui em Teresina, cheguei a questionar reservadamente após a palestra um renomado professor da USP sobre o uso da soja( até porque uma novidade desta e indo contra as inovações do momento, você fica receosa de parecer ridícula diante dos colegas questionando sobre algo que é apenas reportagem para leigos), o professor deu-me uma resposta curta e rápida :” Isto não tem comprovação científica”.
Os anos se passaram , em 2002, final do primeiro semestre a mídia científica e leiga solta uma notícia bombástica – o fim da era de reposição hormonal. Lembro-me da capa da revista VEJA – MULHERES TRAÍDAS PELA MEDICINA. Foi estarrecedor. Os consultórios lotados , as mulheres temerosas buscavam informações. Muitas suspenderam por contra própria suas terapias e, os próprios médicos ficaram extremamente apreensivos e temerosos , muitos afirmaram: Nunca mais vou passar hormonios para ninguém! As dúvidas foram dissipadas pouco a pouco,inúmeras revisões, novos estudos, novas orientações: Tratamento deve ser individualizado, avaliações mais rigorosas dos critérios de risco. Hoje apenas 1/3 a 2/3 da clientela da grande maioria dos consultórios de ginecologia seguem com a terapia hormonal da menopausa para alívio da sintomatologia. Drogas com metade da dose , novos compostos progestagênicos; estudos mostrando a segurança dos transdermicos, o uso dos derivados da soja – isoflavona, antidepressivos, uso da androgênios e muitas discussões nos congressos e reuniões da especialidade.
Segue o estudo KEEPS (Kronos early estrogen prevention study) e o ELITE ( Early versus late intervention trial with estradiol) , ambos estudos randomizados colaborativos de diversas universidades para estudar o benefício dos estrogenios na prevenção da doença coronariana em uma janela de oportunidade que é o momento em que a mulher entra na menopausa, quando os vasos sanguineos ainda não estão danificados , com arteriosclerose. Estes estudos ainda estão em seguimento, porém segundo os analistas ” a pesquisa clínica não identificou nenhuma janela de oportunidade após a menopausa durante a qual a TH possa ser considerada confiantemente livre de riscos. As mulheres de todas as idades que estejam recebendo TH para alívio de sintomas continuam necessitando informações sobre seus possíveis riscos, incluindo a doença coronariana crônica.” Continuamos ainda cautelosos, mas a terapia ainda não foi descartada.

Fontes: Am.J. Epidemiol 2009 Jul1, 170:24
www.clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT001541180
www.clinicaltrials.gov/ct2/NCT00114517
JWatch.org.2009.29; 19 e 20

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