O câncer é o resultado da desordem celular provocada por múltiplos fatores, que ao longo dos anos, de mutação em mutação, agressão em agressão vai mudando pouco a pouco os códigos celulares, os arranjos ordenados, os sinais luminosos de alerta e a capacidade de crescer, amadurecer e respeito ao todo que as células têm na sua maquinaria individual. Uma célula nascente cresce até que sua membrana  identifica  a vizinha então  ela cessa o crescimento e passa a ser um conjunto, na cooperatividade dos tecidos que, há milhares de anos se ordenaram como um único corpo na luta pela sobrevivência e vitória da vida.

Ao compartilharem o mesmo ambiente, os substratos energéticos que incluem os alimentos, as células pouparam esforços para manterem-se e passar adiante a herança genética. Desta forma a célula cumpriu um preceito do progresso que é a solidariedade, o  altruísmo ( ceder sua vez para a felicidade do outro e da comunidade)e com isto a evolução cumpre seu papel na vida.

Mas para manter essa ordem há um gasto comunitário e uma ordenação de respeito que os anárquicos não se encaixam.

Milhares de fatores ao longo dos evos, mutações boas e más entraram nestas rotas. O organismo desenvolveu mecanismos de reparos, de silenciar os dispositivos que tornam as células desordeiras e assim proteger a ordem e o conjunto. As células anárquicas são as cancerosas, que burlam a ordem e desaprenderam o respeito às outras, falando de forma filosófica, e que anseiam ter seu próprio comando e dominar o corpo.

Vários fatores contribuem para esta desordem dentre ele os vírus.

Segundo Boccardo & Villa no livro Oncologia Molecular, página 177 a 188 alguns  pontos são importantes para entendermos essa associação. “Aproximadamente 15% dos canceres humanos são associados a infecções por vírus, estabelecendo infecções persistentes têm  o câncer como feito colateral acidental das diferentes estratégias de replicação viral. Estas infecções são apenas um dos fatores de risco que operam em estágios diferentes do desenvolvimento de um tumor. Outros fatores importantes são: 1) Aqueles associados às alterações celulares envolvidos na neoplasia. 2) Aqueles que possam afetar a resposta imune do hospedeiro ( aquele que hospeda) a ambos, vírus e células tumorais”.

Igualmente importante é conhecermos os mecanismos pelos quais os vírus podem contribuir para o desenvolvimento dos tumores no homem, que são:

Inflamação crônica, estímulo da proliferação celular, alteração da resposta imune e acúmulo de mutações na célula infectada.

No que se refere ao câncer de cabeça e pescoço (preferentemente abordaremos os localizam na cavidade oral, faringe e laringe) estes tumores compreendem o sétimo local mais comum em todo o mundo. Mais de 550.000 novos casos e 300.00 mortes estimadas por ano ( Globocan, 2012), sendo que metade destes tumores estão localizadas na boca. É um impacto muito grande para a população especialmente por que é francamente possível prevenir e a população precisa saber como.

A associação do fumo e do álcool é os dois fatores de risco mais importantes para o aparecimento deste câncer, portanto um homem que fuma e bebe há anos e tem mais de trinta anos precisa ser examinado para identificar possíveis lesões pré malignas ou mesmo lesões suspeitas e o próprio câncer.

Outros fatores também já foram identificados com de risco: Utilizadores de maconha, parceiro de sexo oral, má higiene bucal e o vírus HPV.

O vírus HPV desde a década de 1970 tem sido associado ao câncer do colo do útero, sendo de transmissão venérea. Confirmada na década de 1980 quando foram analisadas amostras de carcinoma do colo do útero e foram encontradas a presença do DNA de HPV tipo 16 e 18.

Tem sido descritas mais de 100 tipos de Papilomavírus humanos (HPVs) divididos em tipo A e B, os primeiros provocam lesões benignas como a verruga comum e o condiloma ( crista de galo)  tem o tipo 6 e 11 como os tipos  mais encontrados e o segundo são os que provocam o câncer têm no tipo 16 e 18 a maior representatividade nos tumores malignos encontrados em todo o mundo.

Nos cânceres de cabeça e pescoço o tipo 16 representa a percentagem 95% dos tumores malignos, 5% é o tipo 18  os demais constituídos por outros de menor importância.

A infecção natural deste vírus é seguida por uma resposta imune humoral e celular contra as proteínas virais. O organismo forma anticorpos contra as proteínas do capsídeo ( parte do vírus que contem o material genético, como se fosse a cabeça do vírus) e esses anticorpos são formados no decorrer da infecção.

Estudos têm demonstrado que a associação de câncer de boca e HPV estão mais relacionadas com sexo oral e uso de maconha e menos com tabaco e álcool.

Todos estes fatos são importantes para o conhecimento da ciência que estuda o impacto da variação genética, a associação destes tumores  com os vírus, as implicações no prognóstico da doença e a importância da população conhecer para prevenir e evitar lesões tão mutiladoras e catastrófica na vida das pessoas.

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