Final de outubro de 2012, fui a São Paulo para o congresso do IFHNOS, no Hospital Albert Einstein. Saindo da rotina de trabalho em Teresina, de cirurgias, consultório, aulas palestras e toda uma roda viva de intensa atividade, os congressos são pausas necessárias, de reciclagem, reflexões, cultura e lazer que refrigeram a alma.
Abrindo hoje a noite a pasta deste congresso encontro este poema, da vivência daqueles dias na Pauliceia. São observações e reflexões da alma daquelas pessoas que cruzam nosso caminho, nas ruas, no metrô, nas esquinas, da janela do carro. São retratos vivos do grande potencial humano que está em todos os lugares deste mundo de meu Deus, só esperando para lhe ensinar e impulsionar as aquisições eternas da experiência humana.
Trajetória.
Foi no escuro…
No escuro da alma.
Que de mãos dadas,
A saciedade da vida,
Com a inquietude do amanhã,
Encontraram-se.
Deu-se uma explosão fantasmagórica,
De um sem número de questões,
Anseios… Aflições…
O temor do desencanto,
Muito cedo, cedeu lugar,
Ao ínfimo toque do despontar.
Escarros e escárnios de si mesmo.
Será?
Recoberto num lençol qualquer, ainda encontra-se,
Num vozerio subalterno de gargalhadas loucas,
Porquês?
Estanca ante o resfolegar das necessidades humanas,
Primárias,
Daquele pobre e solitário humano.
Desejou olhar as estrelas,
Abandonar-se no luzir das luzes do mais alto,
Deixar para trás o lodo e o grotesco,
Do mau odor.
Por um brevíssimo momento sentiu-se leve,
Despojado dos trapos e farrapos,
Desnudo do apego.
Voou… Como uma livre borboleta,
Sempre para o alto,
Inebriado pelo perfume do luar,
Vestido de luz.
Sentiu a palpável felicidade,
Pura, clara, singela,
Como sói acontecer,
Aos libertos das amarras.
A riqueza de não pertencer,
A liberdade de transmutar,
De perceber energia pura,
Sem barreiras,
De Tempo –
De Espaço.
Completo e liberto,
Gostosamente aspirou,
O néctar do hálito essencial.
Absorvendo a retórica dos astros,
Comungando com a melodia angelical,
Que só há de perceber quem salta do escuro,
Para a reluzente luz.
Comovido, olha o peso que ficou no asfalto,
E, tal como as ligeiras penas de um beija-flor,
Reconstrói-se no diáfano e etéreo amor.
São Paulo, 29 de outubro de 2012 às 13horas.