Há alguns anos atrás durante um seminário o palestrante perguntou: Alguém sabe se Jesus alguma vez chorou? Engrossei as fileiras dos que achavam que o Mestre, um ser superior, nunca haveria e nem teria necessidade de chorar. Qual foi minha surpresa quando a enquete resultou no sim, Jesus havia chorado pelo amigo que partira, por Lázaro.
Hoje, 02 de Novembro de 2011 ao comparecer para a homenagem aos meus entes queridos avô e pai, sepultados na vizinha cidade de Timon, diante da mármore fria que guarda o pó que um dia foi carne e serviu de morada ao espírito eterno de José ( meu pai), eu abri a bíblia de bolso ao acaso e me deparei com a lição do evangelho de João capítulo 11 – Jesus ressuscita a Lázaro.
Surpresa! Acaso! Direção do Mundo Maior! Havia falado desta mesma passagem poucas horas antes na entrevista da rádio FM 99,5 e enquanto eu lia o texto velhos questionamentos afloraram em minha mente. Pensei – um bom motivo para estudar e refletir sobre as lições narradas pelo evangelista João.

Por que Jesus dissera: Esta enfermidade não é para a morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.
Por que ele demorou quatro dias para chegar a Betânia quando então Lázaro já estava em decomposição. “Lázaro nosso amigo dorme”. No Versículo 14, para dirimir a dúvida dos discípulos que achavam que Ele falara do sono físico Ele diz: “ Lázaro morreu”.
Segundo Kardec, em A Gênese, “os fatos narrados nos evangelhos considerados miraculosos, pertencem à ordem dos fenômenos psíquicos, cuja causa primária são as faculdades e os atributos da alma e o princípio destes fenômenos se assenta sobre as propriedades do fluido perispiritual, que constitui o agente magnético, sobre as manifestações da vida e depois da morte.”
A autoridade e a superioridade da natureza de Jesus ainda é, e o será por muito tempo incompreensível para a grande maioria dos pobres mortais. Quando Ele exclama para Marta, que abalada e sofrida com a perda do irmão reclamou Sua presença quando do evento que culminou com a morte de Lázaro, “ Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim ainda que morra, viverá”, esta superioridade é evidente. Como diz Kardec ainda no capítulo XV da citada obra: “ A superioridade de Jesus sobre os homens não estava nas qualidades particulares do seu corpo, mas na do seu Espírito puro, desprendido da matéria, que dominava a matéria de maneira absoluta , e na do seu períspirito tirado da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres.”
Versículos posteriores, a leitura mostra o que hoje a neurociência com a tecnologia de imagens cerebrais demonstra – áreas do hipotálamo e no córtex ( córtex orbitofrontal medial direito, no córtex temporal medial médio, nos lobos parietais inferior e superior, núcleo caudado direito, córtex pré- frontal medial esquerdo, córtex cingulado anterior esquerdo , lóbulo parietal inferior esquerdo, ínsula esquerda, núcleo caudado esquerdo e tronco cerebral esquerdo) estimuladas pela emoção liberam uma cascata de hormônios e neurotransmissores que como uma verdadeira onda acionará os fluidos magnéticos tão enfatizado pela tradição religiosa oriental e que na própria obra supracitada Kardec discorre quando escreve sobre Os Fluidos( capítulo XIV). ( Veja acima sobre a superioridade de Jesus)
Jesus comovido profundamente com o pranto e a dor de Maria e dos Judeus que com ela haviam vindo, chorou!
O mistério que envolve a morte parece que ao tempo que nos amedronta, nos atrai.
Na minha infância de tanto ouvir histórias de assombrações, visagens, defuntos, contadas pelas comadres e compadres da fazenda do meu avô eu tinha um medo paralisante. Olhava para a escuridão das noites na Tapera ou na Malhada de Cima ( fazendas do meu avó nas proximidades do município de Timon, Maranhão) e parecia que lá estavam eles, os fantasmas, os lobisomens, bichos papões e tantas outras figuras mitológicas de meter medo nas criançinhas.
Minha infância passada na cidade de Timon era de praxe a igreja local quando alguém partia para melhor, os sinos badalavam o som típico, penoso, anunciador da triste notícia, até hoje é comum nas pequenas cidades dos nossos rincões essa forma de transmitir à população a notícia, o compromisso social, tão solene. Se, era alguém conhecido, eu não saia de perto de minha mãe, medo de ver o defunto. Parecia que a presença dele era mágica, estava em todo lugar, a gritar: eu estou aqui, estou vivo, olhe para mim. A fantasia se agigantava, frio, mudo, fantasma a espreitar os vivos de cá, parecia que o mundo do lado de lá era maior que o meu, querendo engolir o mundo dos vivos, abrindo as portas dos mistérios do outro mundo.
Mas nada como o conhecimento para pouco a pouco acabar com o mundo fantástico do sobrenatural e do maravilhoso. A ciência e os estudos espirituais deram um basta naquele mundo infantil e misterioso.
No primeiro dia da lição de anatomia, no primeiro ano de Medicina, diante daqueles cadáveres que iriam nos ensinar, o medo ameaçou o gélido ambiente do laboratório de anatomia. Depois, nós estudantes, nossa pequena equipe, já éramos tão familiar com aquele cadáver feminino que tanto nos ensinou que parecia mais uma amiga. Ficava pensando: Como terá sido a vida dela? Amou, sorriu, foi feliz? Agradecíamos e orávamos por aquele ser que animou aquele corpo, que tão gentilmente nos doou seus músculos, ossos e vísceras para o aprendizado do santuário do corpo físico na terra.
A morte passou a ser pouco a pouco aceitável, professora, compreensível.
Com a aquisição dos conhecimentos espirituais mais um espesso véu foi retirado e a liberdade de pensar e compreender o significado grandioso da vida foi uma gema preciosa, um tesouro que me foi ofertado, soltando as amarras de raciocínios pré fabricados, sistemáticos e bitolados.
Voltando à lição bíblica de hoje, o extraordinário poder da fé, que faz o crente olhar com esperança a luz, mesmo estando no fundo do abismo, nas profundezas escuras das entranhas tenebrosas onde tudo parece conspirar o contrário, uma réstia de luz acende o fogo arrebatador da fé, então o crente não questiona apenas crê.
Marta não questionou, apenas creu que o Senhor Jesus era a ressurreição e a vida.
Quando se ama muito, a dor do ser amado nos toca profundamente. As lágrimas são as mensageiras aos céus rogando a misericórdia do Senhor da vida e Jesus chorou.
Rogou a misericórdia do Pai para os seus amados. Sem Ele nada é feito, por Ele tudo é permanência. Por isso Jesus, o justo chorou. Ele envia ao Pai a sua rogativa de amor. Ordena a Lázaro com a força do verbo amoroso: Lázaro levanta-te e vem!
Por todo tempo outros tantos, também recolhidos da ilusão da morte dirão agradecidos:
Sim Senhor, eis-me aqui!

2 respostas a “Os que partem… Os que ficam”

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